quarta-feira, 2 de março de 2016

Parazão e Paulistão, por Dado Cavalcanti

Dado Cavalcanti completou, no final de fevereiro, um ano comandando o Paysandu. O treinador, que já passou pela Ponte Preta, levou o Mogi Mirim, em 2013, às Semifinais do Campeonato Paulista e foi eleito o melhor técnico da competição[1], bateu um papo muito legal com o Blog, falou de gramados pesados, qualidade técnica dos estaduais, mostrou os pontos em comum e as peculiaridades das competições do Pará e de São Paulo.
 
Dado Cavalcanti conversou com o Rodada Paralela, no último sábado (27/02/2016), véspera do jogo contra o Águia de Marabá, pela Semifinal do Primeiro Turno do Campeonato Paraense de 2016. (Foto: Ascom Paysandu. Disponível em: http://globoesporte.globo.com/pa/futebol/times/paysandu/noticia/2016/01/dado-comemora-planejamento-do-paysandu-para-temporada-2016.html).
 
RP: Quais as semelhanças entre o Campeonato Paraense e o Paulista? Quais os pontos de ligação entre essas duas competições?
 
DADO: São poucos. O que eu posso falar é que existem muito mais diferenças do que semelhanças. É muito mais fácil e mais direto trabalhar em cima das diferenças. Talvez a semelhança maior seja essa: em São Paulo, nessa época do ano, chove muito. Constantemente, você vê jogos em campos pesados. Na última rodada, no meio de semana, vi um jogo do São Bento e um em Capivari. Os campos estavam encharcados, pesados, o que requer dos atletas um pouco mais de exigência física. O Campeonato Paraense se desenvolve no inverno amazônico, em que chove todos os dias. Dificilmente, nós enfrentamos jogos onde não tenha chuva. Talvez em Santarém chova menos, um pouco, nesse momento. Tucuruí, praticamente toda vez que tem jogo, tem chuva. Aqui, em Belém, os campos são um pouco mais pesados.
 
Na questão técnica e competitiva, o Campeonato Paulista não se compara a nem um outro do Brasil. Para mim, é a Série A dos estaduais. É onde tem a melhor qualidade, a melhor estrutura das equipes. Muitas das equipes de São Paulo, que só disputam o Campeonato Paulista, têm mais estrutura do que equipes que disputam a Série B. O investimento financeiro também é propício, as equipes recebem uma cota significativa, que é praticamente igual a da Série B. Os clubes, recebendo essa cota, mantém a equipe o ano inteiro. Aqui, no Campeonato Paraense, também existe a cota, que é significativa, existe a ajuda da Federação, em relação a transporte e viagens. No caso das viagens mais longas, são aéreas. Mas acho que são campeonatos bem diferentes, principalmente no nível técnico. Eu posso dizer que o Campeonato Paulista está acima de todos os outros. Não só do Paraense, que fique bem claro. Acho que, no Brasil, a competitividade do Campeonato Paulista e os níveis de disputa são muito mais próximos.
 

Partida entre Independente e Paysandu, disputada em Tucuruí, no Estádio Antônio Dias (Navegantão), válida pelo Campeonato Paraense de 2015, vencida pela equipe local por 2 a 0. Destaque para a forte chuva e as condições do gramado.
RP: Você falou dos gramados pesados como uma semelhança entre as competições. Isso tem interferência na formação do plantel? Quais as características que um jogador precisa ter para atuar no Parazão e no Paulistão?
DADO: Aí, posso falar a semelhança. A primeira delas é a qualidade técnica. Independentemente da disputa, das condições da competição, na minha opinião, parto do princípio da qualidade técnica. Um jogador bom vai jogar o Campeonato Paraense, o Campeonato Paulista, a Champions League... o jogador qualificado vai estar preparado. Vai enfrentar o campo ruim, mas a qualidade técnica dele vai sobressair. Vai enfrentar um clima chuvoso, mas a qualidade cognitiva, de entender e assimilar a dificuldade do jogo, vai sobressair. Vai enfrentar uma marcação individual, a inteligência de jogo vai se sobressair. Então, primeiro de tudo, o bom jogador joga no Pará, em Belém, em São Paulo, em qualquer lugar.
Na montagem do elenco, às vezes, é necessário ter um pouco mais de conhecimento específico da competição. As outras variáveis vêm por arrasto. Primeiro, a qualidade técnica. Depois, a quantidade de jogadores no elenco, porque o Estadual, a gente sabe, é um pouco menor. Então, não tem porque fazer um elenco “inchado”. Na Série B, a gente tem um campeonato de trinta e oito rodadas. No Estadual, quinze, dezesseis, no máximo. Então, muda também a quantidade de atletas e as características, porque você tem que ter jogadores polivalentes, aqueles que jogam em algumas funções e isso também interfere.
Dado Cavalcanti, em sua passagem pelo Mogi Mirim Esporte Clube/SP, quando foi escolhido o melhor técnico do Paulistão 2013. (Foto: Carlos Velardi/EPTV. Disponível em: http://globoesporte.globo.com/sp/campinas-e-regiao/noticia/2013/03/profecia-de-dado-cavalcanti-da-certo-e-mogi-e-o-melhor-ataque-do-paulistao.html).

RP: Em Belém, temos dois grandes clubes, Remo e Paysandu, que sofrem a pressão pela conquista do título estadual. Em São Paulo, existem as equipes grandes da capital e muitos times fortes, no interior. Você acha que a pressão, no Pará, por conta do menor número de times de massa, é maior, já que apenas dois são favoritos?
DADO: Não (risos). Em Santa Catarina, têm cinco ou seis que disputam o título, talvez não com a mesma grandeza dos de São Paulo, não com a mesma repercussão nacional de um jogo ruim ou mesmo de uma derrota. A pressão é a mesma em qualquer lugar. Talvez aqui (no Pará), na Bahia, por só ter Bahia e Vitória, no Ceará, em Minas (Gerais), por só ter o América Mineiro correndo por fora, em Porto Alegre, por só ter o Grêmio e o Internacional, existe uma centralização das informações. Talvez Remo e Paysandu sejam muito mais divulgados do que as equipes do interior. Mas o perdedor vai sempre colher a derrota, independente de quantos disputem a competição... a competição não é apenas disputada por dois. Ano passado, a Final do Primeiro Turno (do Campeonato Paraense) foi entre Independente e Parauapebas. Aqui, já houveram duas equipes do interior que foram campeãs, Independente (em 2011) e Cametá (em 2012). O Campeonato Paulista já foi vencido pelo Ituano, por exemplo. Em outros momentos, Novorizontino e Bragantino já venceram o Campeonato Paulista.[2] Poucos estados são os que não têm campeão do interior. São raras exceções. Mas a pressão é a mesma. Eu vejo mais ou menos isso.



Final do Campeonato Paraense de 2011, o primeiro a ser conquistado por uma equipe do interior do Estado. O Independente Atlético Clube, de Tucuruí, derrotou o Paysandu Sport Club, nos pênaltis, depois de empatarem por 3 a 3 no tempo regulamentar.


Segundo jogo da Final do Parazão 2012, conquistado pelo Cametá Sport Club, após empatar com o Clube do Remo em 2 a 2.
RP: Você tem acompanhado o Campeonato Paulista deste ano? Quem você aponta como favorito?
DADO: Bom, é obrigação acompanhar o melhor campeonato estadual, até porque analisamos com perspectiva de Série B. Estamos visualizando e acompanhando alguns jogadores... acho que o Corinthians, hoje, sai na frente dos demais, por estar mais encaixado. As equipes do interior estão oscilando muito. Não dá pra ter um parâmetro. O Água Santa começou muito bem, fez dois jogos fora e tomou quatro a zero nos dois. Então, já balança um pouco mais. Algumas equipes que começaram ruins o Campeonato começaram a ganhar pontos. A Ponte Preta começou mal o Campeonato, mas já venceu uma partida de goleada e está na zona de classificação. Ou seja, tem muita coisa, ainda. Está no iniciozinho do Campeonato e não dá pra cravar muita coisa.
 
O Blog agradece a atenção do técnico Dado Cavalcanti em responder as perguntas, bem como a Assessoria de Imprensa do Paysandu, na pessoa do Jorge Luiz, por possibilitar a realização da entrevista.

[1] Disponível em: http://placar.abril.com.br/materia/corinthians-domina-selecao-do-campeonato-paulista-2013.
[2] O Novorizontino decidiu o Campeonato Paulista de 1990 com o Bragantino, que se sagrou campeão. A equipe de Novo Horizonte não conquistou a Série A1 do Paulistão.

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