terça-feira, 19 de janeiro de 2016

Personalidades do Futebol: Paulo Caxiado

Em todo o Brasil, a tendência no Jornalismo Esportivo é a utilização do humor como forma de atrair o telespectador/ouvinte e proporcionar entretenimento, juntamente com o noticiário. No entanto, em Belém, isso ocorre há décadas. Paulo Caxiado, repórter da Rádio Clube do Pará, setorista do Clube do Remo, é referência no assunto e o Rodada Paralela mostra o grande trabalho desempenhado por ele, no quadro Personalidades do Futebol.

Paulo Caxiado (à direita), entrevistando atleta do Clube do Remo.

Paulo iniciou a vida profissional trabalhando no comércio, juntamente com o pai, por volta dos vinte anos de idade. Entrou no futebol pelos campos de pelada, coordenando torneios no bairro do Jurunas, na capital paraense. Por conta de um problema físico em uma das pernas, não pôde se tornar jogador.

No rádio, Caxiado começou sua carreira por volta de 1989, quando foi setorista da Federação Paraense de Futebol. Em 1992, por causa das férias de um colega, passou a cobrir o cotidiano do Clube do Remo. Desde então, nunca mais saiu do Leão Azul, se tornando uma figura icônica por seu carisma e humor.

Suas referências no Jornalismo Esportivo são Cláudio Guimarães, Guilherme Guerreiro (locutores da Rádio Clube do Pará) e Ivo Amaral (comentarista da Rádio e TV Liberal), “pessoas que, realmente, são ícones da imprensa paraense e eu me inspirei muito nesses grandes profissionais”, nos afirmou Caxiado.

O repórter inovou, no Jornalismo Esportivo do Pará, ao dar toques de humor em suas matérias, fugindo do lugar-comum das notícias sobre treinos, jogadores lesionados e tudo o que envolve o dia a dia de um clube. Sobre o tema, Paulo nos falou:


“Durante minha história de repórter setorista, passei a notícia para o ouvinte/torcedor e, ao mesmo tempo, com uma brincadeira, com humor. Por exemplo, o Paysandu, eu chamo, carinhosamente, de ‘Vizinho da Almirante Barroso’, ‘Bicho Feio’ e eles não gostam disso. Uns gostam e outros, não (...) Principalmente, quando tem Re-Pa, eu tiro aquele sarro... eles se preocupam: ‘o que o Caxiado vai falar?’ Mas o ponto mais alto é a conversa com o Leão. Desde 1993 para 1994, eu já era repórter do Clube do Remo e, mudando essa sistemática de dar notícia, o Monólogo com o Leão é o maior sucesso do futebol paraense”.

Foto do Twitter de Paulo Caxiado (@pcaxiado), que mostra o repórter conversando com o Leão, que fica no Estádio Evandro Almeida (Baenão), de propriedade do Clube do Remo. (Disponível em: https://twitter.com/pcaxiado)

Caxiado tem inúmeros outros jargões como “Soltem a fera!”, quando o Remo entra no gramado de jogo, “cinco milhões de torcedores em toda a Amazônia Legal”, “Leão! Mostra tua força, Leão!” e o “Fenômeno Azul”, expressão criada em 2005, ano em que os azulinos participaram, pela primeira vez, da Série C, situação mais difícil vivida pelo clube, até aquela época. O repórter passou a convocar a torcida, sendo um dos motivos pelo qual o Remo teve a melhor média de público do Campeonato Brasileiro, em todas as divisões, com 34.728 pagantes por jogo[1]. Na oportunidade, Paulo, emocionado, no rádio, falou: “isso é um fenômeno!” Desde então, os torcedores do Clube do Remo também são conhecidos, nacionalmente, por “Fenômeno Azul”.
O repórter passou por situações interessantíssimas, ao longo da carreira. Uma foi o “Gol da Santinha”, válido pela última rodada da Primeira Fase do Campeonato Brasileiro da Série B de 1999, que ele mesmo nos explicou:
“O Gol da Santinha está na consciência do torcedor do Clube do Remo. Nesse mesmo dia, o Paysandu jogava contra o Bragantino/SP, no Mangueirão e o Remo foi jogar lá (em Maceió/AL) contra o CRB, totalmente desacreditado, com o CRB precisando vencer para seguir para a outra fase da competição, para chegar à semifinal e ao título e o Remo lutava apenas para não cair (...) O que aconteceu foi que o Paysandu se engatou e perdeu o jogo por 1 a 0. Lá, o Remo levou 1 a 0 e o Júlio César foi, em uma jogada do Balão, e empatou o jogo. Por isso que digo que existe, sim, milagre e eu tenho fé na minha Santinha, no meu Deus Todo-Poderoso, no Papai do Céu. Olha só o que aconteceu: o Remo estava em cima e, numa jogada de escanteio, o Anderson, lateral-esquerdo, cruzou, a bola passou do Ney e o Scott, que não tinha jogado nenhuma partida, só escorou, ‘tim’, 2 a 1 (o Remo virou o placar). Meu amigo, foi uma festa maravilhosa! O CRB veio pro ataque e o cara fez o gol. O juiz tava (sic) assim, no meio, e correu, mas o bandeira ficou aqui (marcando impedimento). O juiz anulou o gol. Isso não vai sair nunca da minha memória, nem do torcedor do ‘Fenômeno Azul’! Obrigado, minha Santinha! Obrigado, minha Mãe de Nazaré!”



Em outra oportunidade, o atacante Zé Augusto, cujo apelido era “Terçado Voador”, que atuou muitos anos pelo Paysandu, em um clássico contra o Remo, marcou o gol da vitória e, na comemoração, imitou a maneira como Caxiado caminha. A situação se deu após o repórter falar, em um programa esportivo da Rádio Clube do Pará, “que o terçado estava desamolado, estava cego o terçado”. Paulo diz que nunca se aborreceu com isso e que valorizou ainda mais o seu trabalho, já que o tento foi marcado por um atacante do maior rival.


O repórter é tão querido pelos remistas que, no Carnaval de Belém, no ano de 2015, foi homenageado pela Escola de Samba Embaixadores Azulinos, com o tema “A voz que estremece a planície e enaltece o Leão – Paulo Caxiado”. O vídeo abaixo mostra o enorme carinho dos torcedores pelo profissional.



Caxiado se considera um dos maiores responsáveis pelo grande público nos jogos do Clube do Remo:

“Muita gente diz pra mim, na rua: ‘Caxiado, sabe por que o Remo é campeão de público? Porque você está lá, você incentiva e o pessoal do outro lado não entende! Podem até estar numa competição superior, mas não tem o público que o Remo coloca nas arquibancadas do Mangueirão! Não tem esse público, porque o outro lado não tem um repórter como Paulo Caxiado’. Eu fico, as vezes, até envaidecido, de ouvir isso de torcedores do Paysandu”.

Sem dúvida, Paulo Caxiado é um dos pioneiros em relacionar humor e Jornalismo, não apenas no Pará, mas em todo o Brasil, fazendo isso há mais de vinte anos. Sua irreverência é símbolo de seu excelente trabalho como setorista do Clube do Remo e a receptividade de suas palavras, junto ao torcedor, é significativa. Fica o nosso sincero agradecimento pela enorme boa vontade e disponibilidade do repórter em ceder sua imagem, conversar com a gente e contar um pouco da sua vitoriosa história de vida.

[1] Fonte: http://globoesporte.globo.com/pa/futebol/times/remo/noticia/2013/11/clube-do-remo-comemora-oito-anos-do-titulo-da-serie-c-do-brasileiro.html

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