domingo, 31 de janeiro de 2016

Desportiva Paraense, o único clube formador do Norte do Brasil

Clube-empresa é formado por investidores e possui importante função social.

Marituba é um município situado na Região Metropolitana de Belém, com aproximadamente 110 mil habitantes, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)[1] e que figura como o 23º mais violento do Brasil, de acordo com o Mapa da Violência 2015.[2] No entanto, sedia um projeto que é desenvolvido há cinco anos e que vem dando bons frutos aos investidores, além de afastar os jovens da criminalidade.


Escudo da Sociedade Desportiva Paraense Ltda. (Disponível em: http://www.desportivaparaense.com.br/wp-content/uploads/2014/06/LOGO.png)


A cidade abriga a Sociedade Desportiva Paraense Ltda. O clube definiu que suas finalidades e filosofia são as de formar atletas de diversas modalidades desportivas, com ênfase, de início, às categorias de base do futebol e fazer do atleta um futuro campeão e um perfeito cidadão.[3] A SDP é registrada na Junta Comercial do Estado do Pará e é uma sociedade limitada, o que quer dizer que cada sócio possui uma quota e sua responsabilidade é restrita ao montante que investiu.

Sede da Desportiva Paraense. (Disponível em: http://www.desportivaparaense.com.br/?page_id=124)

A Desportiva funciona em uma área de 37.000 m² (trinta e sete mil metros quadrados) e toda a construção foi arcada pelos investidores que, no início, eram catorze. Atualmente, a Sociedade conta com trinta pessoas e seu patrimônio é avaliado em, aproximadamente, R$ 8.000.000,00 (oito milhões de reais), sem levar em conta o valor dos atletas. É importante ressaltar que o clube-empresa não teve nenhum aporte financeiro do Poder Público.
 
Campos do Centro de Treinamentos da SDP. (Disponível em: http://www.desportivaparaense.com.br/?page_id=124)
 
O Clube foi inaugurado em 01 de maio de 2011 e mais de 1600 jogadores já passaram por lá. Hoje, a SDP possui 140 atletas, distribuídos nas categorias sub-13, sub-15, sub-17 e sub-20.  Ademais, firmou parceria com um hospital, clínicas odontológicas, cursos de profissionalização e de idiomas, para que os jogadores tenham acesso à saúde e ao estudo, além de oferecer transporte, em seu ônibus, nos dias de treinos e jogos.

A Sociedade Desportiva Paraense Ltda. é o primeiro clube da Região Norte do Brasil a ter o Cetificado de Clube Formador (CCF), o que faz com que seja reconhecida, pela Confederação Brasileira de Futebol, como uma equipe especializada na formação de jogadores.
 
Certificado de Clube Formador, emitido pela CBF para a Desportiva Paraense. (Disponível em: http://www.desportivaparaense.com.br/?p=623)
 
Como preparação para a disputa da Copa São Paulo de Futebol Júnior 2016, a equipe entrou em campo pelo Campeonato Paraense da Segunda divisão, em 2015. Fez uma boa participação, sendo eliminada apenas na Semifinal para o Águia de Marabá, em jogo bastante disputado e vencido por 2 a 1 pela equipe do Sul do Pará, que acabou se sagrando campeã. Mesmo assim, segundo os sócios Alaci Naum e Elomar Saúde, até o momento, a Desportiva não pretende formar uma equipe de futebol profissional, se limitando às categorias de base.

Em janeiro de 2016, a SDP, pela primeira vez, disputou a Copinha, após conquistar o Vice-Campeonato Paraense sub-17, em 2014 e 2015, o que faz com que esteja, inclusive, garantida para a edição de 2017. Neste ano, a Desportiva esteve no Grupo 22, com os jogos disputados no Estádio Nabi Abi Chedid, em Bragança Paulista/SP, com o Clube Atlético Mineiro e o Araxá Esporte Clube, ambos de Minas Gerais, além do River Atlético Clube, do Piauí.

A campanha foi supreendente. Após estrear com derrota por 2 a 1 para o Araxá, os comandados pelo experiente técnico Válter Lima venceram o River pelo mesmo placar e, na terceira rodada, bateram o Atlético por 3 a 0, com direito a um belo gol de falta do meia Marco Antônio, score que fez com que a equipe se classificasse na primeira posição do Grupo 22 e eliminasse a tradicional equipe mineira.

 

 
Na Segunda Fase, perdeu para o Esporte Clube Bahia por 4 a 1 e foi eliminada. Mesmo assim, o brilho da boa campanha na competição não foi apagado. Os atletas Douglas, Elsinho e Marco Antônio já não pertencem mais a SDP, pois foram vendidos a um grupo de investidores. O provável destino deles está entre o Grêmio/RS, Cruzeiro/MG, Guarani/SP e o próprio Bahia/BA.

O atacante Douglas, de 17 anos, que marcou dois gols na Copa São Paulo de Futebol Júnior e o meia Elsinho, destaques da Desportiva na competição, conversaram conosco e falaram que a disputa foi muito importante para que fosse reconhecido o trabalho realizado, principalmente por terem recebido propostas de clubes tradicionais do futebol brasileiro. Outro ponto destacado pelos atletas foi a estrutura oferecida pela SDP para a preparação do elenco para a Copinha, com bons campos de treino e academia para a realização de atividades físicas.


Academia disponível aos atletas da Desportiva Paraense (Disponível em: http://www.desportivaparaense.com.br/?page_id=124)

João Cunha, comentarista da Rádio Clube do Pará, também falou para o Blog a sua percepção sobre o trabalho da Desportiva:

“Quem já foi lá, ver as instalações, sabe que o que foi dito por esses jogadores é a expressão da verdade. São pessoas que trabalham com a intenção clara de faturar algum (dinheiro) no futuro, porque estão plantando para colher. Vai ao encontro do manancial de jovens valores que nós temos aqui. (...) Para mim, é uma ideia brilhante, que vai ajudar a trazer novos valores e, ao mesmo tempo, ajudar a própria comunidade, pessoas jovens que estariam sem um norte a acabam tendo um objetivo na vida, que é praticar esporte”.
 
Agradecemos ao jornalista Zaire Filho, por oportunizar a entrada na Cerimônia de Abertura do Troféu Camisa 13, o que nos possibilitou assistir a palestra cujo tema era a Sociedade Desportiva Paraense Ltda., bem como aos atletas do clube, que nos contaram um pouco da experiência vivida na disputa da Copa São Paulo de Futebol Júnior 2016 e ao João Cunha, pela boa vontade em conversar com o Blog.


[1] Disponível em: <http://cidades.ibge.gov.br/xtras/temas.php?lang=&codmun=150442&idtema=16&search=para|marituba|sintese-das-informacoes>
[2] Disponível em: http://exame.abril.com.br/brasil/noticias/as-250-cidades-mais-violentas-do-brasil
[3] Disponível em: <http://desportivaparaense.com.br/site/?page_id=52>

terça-feira, 19 de janeiro de 2016

Personalidades do Futebol: Paulo Caxiado

Em todo o Brasil, a tendência no Jornalismo Esportivo é a utilização do humor como forma de atrair o telespectador/ouvinte e proporcionar entretenimento, juntamente com o noticiário. No entanto, em Belém, isso ocorre há décadas. Paulo Caxiado, repórter da Rádio Clube do Pará, setorista do Clube do Remo, é referência no assunto e o Rodada Paralela mostra o grande trabalho desempenhado por ele, no quadro Personalidades do Futebol.

Paulo Caxiado (à direita), entrevistando atleta do Clube do Remo.

Paulo iniciou a vida profissional trabalhando no comércio, juntamente com o pai, por volta dos vinte anos de idade. Entrou no futebol pelos campos de pelada, coordenando torneios no bairro do Jurunas, na capital paraense. Por conta de um problema físico em uma das pernas, não pôde se tornar jogador.

No rádio, Caxiado começou sua carreira por volta de 1989, quando foi setorista da Federação Paraense de Futebol. Em 1992, por causa das férias de um colega, passou a cobrir o cotidiano do Clube do Remo. Desde então, nunca mais saiu do Leão Azul, se tornando uma figura icônica por seu carisma e humor.

Suas referências no Jornalismo Esportivo são Cláudio Guimarães, Guilherme Guerreiro (locutores da Rádio Clube do Pará) e Ivo Amaral (comentarista da Rádio e TV Liberal), “pessoas que, realmente, são ícones da imprensa paraense e eu me inspirei muito nesses grandes profissionais”, nos afirmou Caxiado.

O repórter inovou, no Jornalismo Esportivo do Pará, ao dar toques de humor em suas matérias, fugindo do lugar-comum das notícias sobre treinos, jogadores lesionados e tudo o que envolve o dia a dia de um clube. Sobre o tema, Paulo nos falou:


“Durante minha história de repórter setorista, passei a notícia para o ouvinte/torcedor e, ao mesmo tempo, com uma brincadeira, com humor. Por exemplo, o Paysandu, eu chamo, carinhosamente, de ‘Vizinho da Almirante Barroso’, ‘Bicho Feio’ e eles não gostam disso. Uns gostam e outros, não (...) Principalmente, quando tem Re-Pa, eu tiro aquele sarro... eles se preocupam: ‘o que o Caxiado vai falar?’ Mas o ponto mais alto é a conversa com o Leão. Desde 1993 para 1994, eu já era repórter do Clube do Remo e, mudando essa sistemática de dar notícia, o Monólogo com o Leão é o maior sucesso do futebol paraense”.

Foto do Twitter de Paulo Caxiado (@pcaxiado), que mostra o repórter conversando com o Leão, que fica no Estádio Evandro Almeida (Baenão), de propriedade do Clube do Remo. (Disponível em: https://twitter.com/pcaxiado)

Caxiado tem inúmeros outros jargões como “Soltem a fera!”, quando o Remo entra no gramado de jogo, “cinco milhões de torcedores em toda a Amazônia Legal”, “Leão! Mostra tua força, Leão!” e o “Fenômeno Azul”, expressão criada em 2005, ano em que os azulinos participaram, pela primeira vez, da Série C, situação mais difícil vivida pelo clube, até aquela época. O repórter passou a convocar a torcida, sendo um dos motivos pelo qual o Remo teve a melhor média de público do Campeonato Brasileiro, em todas as divisões, com 34.728 pagantes por jogo[1]. Na oportunidade, Paulo, emocionado, no rádio, falou: “isso é um fenômeno!” Desde então, os torcedores do Clube do Remo também são conhecidos, nacionalmente, por “Fenômeno Azul”.
O repórter passou por situações interessantíssimas, ao longo da carreira. Uma foi o “Gol da Santinha”, válido pela última rodada da Primeira Fase do Campeonato Brasileiro da Série B de 1999, que ele mesmo nos explicou:
“O Gol da Santinha está na consciência do torcedor do Clube do Remo. Nesse mesmo dia, o Paysandu jogava contra o Bragantino/SP, no Mangueirão e o Remo foi jogar lá (em Maceió/AL) contra o CRB, totalmente desacreditado, com o CRB precisando vencer para seguir para a outra fase da competição, para chegar à semifinal e ao título e o Remo lutava apenas para não cair (...) O que aconteceu foi que o Paysandu se engatou e perdeu o jogo por 1 a 0. Lá, o Remo levou 1 a 0 e o Júlio César foi, em uma jogada do Balão, e empatou o jogo. Por isso que digo que existe, sim, milagre e eu tenho fé na minha Santinha, no meu Deus Todo-Poderoso, no Papai do Céu. Olha só o que aconteceu: o Remo estava em cima e, numa jogada de escanteio, o Anderson, lateral-esquerdo, cruzou, a bola passou do Ney e o Scott, que não tinha jogado nenhuma partida, só escorou, ‘tim’, 2 a 1 (o Remo virou o placar). Meu amigo, foi uma festa maravilhosa! O CRB veio pro ataque e o cara fez o gol. O juiz tava (sic) assim, no meio, e correu, mas o bandeira ficou aqui (marcando impedimento). O juiz anulou o gol. Isso não vai sair nunca da minha memória, nem do torcedor do ‘Fenômeno Azul’! Obrigado, minha Santinha! Obrigado, minha Mãe de Nazaré!”



Em outra oportunidade, o atacante Zé Augusto, cujo apelido era “Terçado Voador”, que atuou muitos anos pelo Paysandu, em um clássico contra o Remo, marcou o gol da vitória e, na comemoração, imitou a maneira como Caxiado caminha. A situação se deu após o repórter falar, em um programa esportivo da Rádio Clube do Pará, “que o terçado estava desamolado, estava cego o terçado”. Paulo diz que nunca se aborreceu com isso e que valorizou ainda mais o seu trabalho, já que o tento foi marcado por um atacante do maior rival.


O repórter é tão querido pelos remistas que, no Carnaval de Belém, no ano de 2015, foi homenageado pela Escola de Samba Embaixadores Azulinos, com o tema “A voz que estremece a planície e enaltece o Leão – Paulo Caxiado”. O vídeo abaixo mostra o enorme carinho dos torcedores pelo profissional.



Caxiado se considera um dos maiores responsáveis pelo grande público nos jogos do Clube do Remo:

“Muita gente diz pra mim, na rua: ‘Caxiado, sabe por que o Remo é campeão de público? Porque você está lá, você incentiva e o pessoal do outro lado não entende! Podem até estar numa competição superior, mas não tem o público que o Remo coloca nas arquibancadas do Mangueirão! Não tem esse público, porque o outro lado não tem um repórter como Paulo Caxiado’. Eu fico, as vezes, até envaidecido, de ouvir isso de torcedores do Paysandu”.

Sem dúvida, Paulo Caxiado é um dos pioneiros em relacionar humor e Jornalismo, não apenas no Pará, mas em todo o Brasil, fazendo isso há mais de vinte anos. Sua irreverência é símbolo de seu excelente trabalho como setorista do Clube do Remo e a receptividade de suas palavras, junto ao torcedor, é significativa. Fica o nosso sincero agradecimento pela enorme boa vontade e disponibilidade do repórter em ceder sua imagem, conversar com a gente e contar um pouco da sua vitoriosa história de vida.

[1] Fonte: http://globoesporte.globo.com/pa/futebol/times/remo/noticia/2013/11/clube-do-remo-comemora-oito-anos-do-titulo-da-serie-c-do-brasileiro.html